A saudade


Domingo à noite. Os últimos pingos de chuva caindo na janela. Um sentimento em comum: saudade. Daquilo que vem, daquilo que vai. Daquilo que vem do que vai. Estamos fadados a isso e, ainda assim, sorrindo. A saudade dói, mas se pararmos para pensar, anestesia. Porque senti-la nos obriga a buscar as lembranças de pessoas que nos fizeram felizes. E por mais que fira, cura. O sentimento mais presente nas poesias e canções. É obrigatória no amor. Tentamos matá-la, mesmo que temporariamente, longe ou perto de quem sentimos saudade. Relemos cartas, revemos fotos, reviramos a memória. Fechamos os olhos e ao mesmo tempo abrimos um sorriso sem mostrar os dentes, o que condena estarmos sentindo a desesperada necessidade de puxar aquela pessoa do nosso pensamento para junto de nós. Além de tudo isso, é um sentimento completamente próprio da língua portuguesa. Os ingleses sentem falta. Nós sentimos saudade. E existe uma grande diferença (mesmo que paradoxalmente possa ser uma linha tênue, em determinados casos) entre “I miss you” e “eu sinto saudade”. Saudade é medo, amor, distância, ontem, a música que você ouviu hoje, o beijo que você não deu, o amor que você recusou, o momento que você desperdiçou, a mão que você pegou, a ajuda que deu, o jardim que regou, o texto que você acabou de ler, a pessoa de quem você acabou de lembrar, a cama desarrumada em um domingo chuvoso à noite. Tipo agora.

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